terça-feira, 4 de outubro de 2011

Livro "Produtos naturais, que fraude!" causa polêmica na Espanha

Trabalho escrito pelo professor de Biotecnologia da Universidade de Valencia questiona conhecimento científico dos produtos naturais
Um livro chamado Los productos naturales! Vaya timo! (algo como Produtos Naturais, que fraude!) vem incentivando debates na Espanha. Especialmente depois de seu autor – o professor de Biotecnologia da Universidade Politecnica de Valencia, Jose Miguel Mulet – ter concedido uma entrevista ao diário catalão La Vanguardia na qual afirmou que os defensores de produtos naturais são "bons de papo, mas têm pouca base científica".

Mulet abriu espaço para opiniões diversas no blog homônimo ao livro (www.losproductosnaturales.com), discutindo ciência e biotecnologia. "Trato de buscar, do ponto de vista científico, o que há de verdade e de mentira por trás da publicidade e da percepção das pessoas de que os produtos naturais são melhores para a saúde e o meio ambiente", diz ele nesta conversa com o Monsanto em Campo.

Apesar das críticas, o professor também faz um mea-culpa. "Talvez os cientistas devessem sair um pouco dos laboratórios e dedicarem-se a contar à sociedade o que estão fazendo".

Do que se trata o seu livro Los productos naturales ¡vaya timo!?

O livro fala de tudo aquilo que nos é "vendido" sob o termo "natural" (ou orgânico), da alimentação à medicina, passando pela habitação e energia. Trato de buscar, do ponto de vista científico, o que há de verdade e de mentira por trás da publicidade e da percepção das pessoas de que são produtos melhores para a saúde e para o meio ambiente. A verdade é que por trás do mercado verde há muita ideologia, mas pouca ciência.

Por que decidiu escrevê-lo?

Tive de buscar informações sobre esses temas quando comecei a dar aulas na universidade, como parte da minha preparação e também por curiosidade. Percebi que muitas das coisas que meus alunos, futuros engenheiros agrônomos e biotecnólogos, entendiam como seguras em temas relacionados à alimentação não tinham base científica que os apoiassem. Por isso, pensei que poderia ser útil escrever um livro sobre o mercado "natural" ou "ecológico".

E como tem sido a reação dos seus leitores?

Em geral, a resposta dos leitores tem sido boa e tenho recebido comentários muito interessantes. Também é verdade que o livro incomodou muito os ecologistas, ainda que as críticas mais agressivas venham de pessoas que não se preocuparam em ler o livro. O mundo verde é pouco receptivo às críticas.

A preservação do meio ambiente e da ecologia são temas muito importantes atualmente, incluindo a questão de como se produz os alimentos. Qual a sua opinião sobre a necessidade de produzir mais alimentos e, ao mesmo tempo, conservar o meio ambiente?

A agricultura não é ecológica por definição. Mas já que é "agressiva" ao meio ambiente, devemos levar em conta todo o empenho e toda a ajuda da biotecnologia para que o seu impacto seja o menor possível, sem prejuízo da produção. Qualquer solução que implique em baixar o nível de produção de alimentos será um fracasso, já que nos obrigará a utilizar mais terra – ou seja, desmatar áreas virgens.

Há quanto tempo o senhor estuda os transgênicos?

Comecei a tese de doutorado em 1997, trabalhando com a tolerância à salinidade nas plantas. Atualmente, estou começando minha própria linha de pesquisa. Graças ao sistema modelo de leveduras, temos identificado genes de beterraba que dão tolerância à seca ou ao frio. Agora estamos introduzindo em plantas de interesse agronômico, como tomate e arroz.

Por que os europeus ainda resistem aos transgênicos?

São motivos históricos. As primeiras empresas a comercializá-los são americanas, por isso as empresas europeias viram com bons olhos as reticências de alguns grupos e aproveitaram para fazer leis restritivas, que lhes protegessem frente à concorrência. À medida que as empresas europeias comecem a desenvolver os transgênicos, esse medo vai passando e as leis serão menos restritivas. Aí está o exemplo da Alemanha, que era antitransgênica até que a Basf desenvolveu a batata Amflora.

Quais as vantagens dos transgênicos para a agricultura e os consumidores?

O tema transgênicos é muito amplo. Os medicamentos, o algodão, as enzimas dos detergentes são transgênicas. Tantas aplicações são a melhor prova de que a tecnologia funciona. A respeito das vantagens para o agricultor, depende de cada variedade. Algumas permitem economia de inseticidas, outras permitem o plantio direto. Esses benefícios nem sempre são percebidos pelo consumidor, salvo pela economia no preço final do produto. Agora mesmo estão desenvolvendo transgênicos com melhores propriedades nutricionais cujos benefícios serão mais perceptíveis para o consumidor. Estou certo de que, quando chegarem ao mercado, essas variedades diminuirão certa rejeição que ainda há em relação aos transgênicos.

Quais as vantagens dos produtos ecológicos?

Produto ecológico apenas quer dizer que se adapta à normativa de produção vigente no país. Deste ponto de vista, a principal vantagem é tranqüilizar a consciência do comprador, que crê que paga mais por algo que é melhor para a saúde ou para o meio ambiente, ainda que não esteja certo disso.

A agricultura convencional e a transgênica podem conviver harmoniosamente?

Sim, perfeitamente. É o que está acontecendo em países como a Espanha. Os problemas da coexistência são um mito criado conforme o interesse de algumas organizações. Se você for ao campo, não verá esses problemas em nenhuma parte. Quem quer transgênico planta transgênico. Quem não quer, não planta. Apenas é necessário respeitar a distância recomendada. As leis de distância mínima dos transgênicos não estão pensadas para garantir a qualidade do produto, e sim para contentar os ecologistas.

Como tem sido o desenvolvimento da biotecnologia e a difusão do conhecimento científico na Espanha?

A situação é um pouco contraditória. A Espanha é o principal produtor de milho transgênico da Europa e, ainda assim, sofremos com a rejeição dos consumidores porque, em sua maioria, preferem a alimentação dita natural. Por outro lado, na Universidade Politécnica de Valencia, lançamos a carreira de Biotecnologia há cinco anos. Para 100 vagas temos 800 candidatos. Temos às vezes uma rejeição à biotecnologia na alimentação, mas há grande interesse dos jovens em estudar biotecnologia. Talvez os cientistas devessem sair um pouco dos laboratórios e dedicarem-se a contar à sociedade o que estão fazendo. Minha modesta contribuição é o livro e o meu blog – www.losproductosnaturales.com –, onde falo de biotecnologia e de mitos na chamada alimentação natural.

Fonte: 
www.monsanto.com.br
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