quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Genética das pelagens dos equinos




(Roger Clark – Inspetor Zootécnico ABQM)

Pouco se conhece sobre o modo de herança dos genes envolvidos com as pelagens e existem muitas divergências entre autores.

A espécie eqüina apresenta grande variedade de pelagens, que são determinadas por vários pares de genes proporcionando uma infinidade de combinações gênicas.
No Brasil são usadas várias nomeclaturas para definir as pelagens, isso se da por regionalismo causando alguma confusão.
Existem diversas teorias sobre a forma de transmissão dos genes envolvidos com as pelagens dos eqüinos. A mais estudada é a da escola americana de Castle, que propõe um abecedário para designar esses genes.
No ABC da genética das pelagens dos eqüinos, alguns genes, tem ação bem conhecida, mas, muitos são desconhecidos ou sem comprovação.
Genes da série C (Color)
Vamos mencionar a letra (C) em primeiro lugar devido a sua importância. Nesta série tem-se o alelo dominante (C) e o recessivo (c). O (C) é responsável pela produção do pigmento melânico, pois permite que a reação bioquímica, descrita a seguir, aconteça em todas as suas etapas.
Tirosina + Dopa tirosinase + cobre Melanóide + Proteína = MELANINA
Na presença do alelo recessivo e, na forma homozigota (cc) o animal é incapaz de formar o pigmento denominado MELANINA, por uma deficiência da enzima tirosinase. A reação descrita não se completa. Esses animais são chamados de ALBINOS e possuem pelos brancos, pele e olhos róseos, pois o sangue é visualizado por transparência. O verdadeiro albino é observado nos coelhos e ratos. Na espécie eqüina nunca foi descrito nenhum animal com deficiência total de pigmento melânico. Na verdade os cavalos conhecidos como albinos possuem na verdade deficiência de produção de melanina e não ausência total.
(CAVALO ALBINO)
Genes da serie B (Black)
Os alelos desta série, (B e b), são responsáveis pela cor do pigmento produzido. O (B), dominante, quando acontece no genótipo nas formas homozigotas (BB) e heterozigota (Bb), determina que o pigmento produzido seja preto. Seu alelo recessivo em homozigose (bb) leva a produção do pigmento vermelho. Com esse conhecimento será possível definir os genótipos das pelagens preta e alazã.
(CAVALO PRETO)
Pelagem Preta CCBB x CCBb = 25% BB Preto, 50% Bb Preto e 25% bb Alazã
(CAVALO ALAZÃO)
Pelagem Alazão CCbb x CCbb = 100% Alazã
Genes da serie A (Aguti)
Os alelos desta série são responsáveis pela produção da FEOMELANINA, que determina clareamento da pelagem em áreas especificas. Desta forma, se o animal estiver produzindo pigmento preto (B) e o gene para feomelanina estiver presente no genótipo, determinadas áreas da pelagem serão de coloração vermelha e se o pigmento produzido for vermelho (bb) a presença da feomelanina tomará áreas especificas de tonalidade amarelada.
Na serie (A) deve-se considerar, em ordem de dominância, os alelos relacionados a seguir:
(A +, A, a + a) Determina clareamento que fica restrito as áreas da cabeça, flancos e focinhos.
(B_A+) Na presença de (B), alelo responsável pela produção do pigmento preto, o (A) determina a pelagem conhecida como castanho pinhão. O animal terá produção do pigmento preto com clareamento (tonalidade avermelhada) na cabeça, flancos e axilas.
(BbA+) Pelagem vermelha com áreas amareladas na cabeça, flanco e axilas.
(A) Clareamento de toda a cabeça, pescoço e tronco.
(B_A) Pelagem castanha. O animal terá crina, cauda e membros pretos demonstrando a presença do (B_) no genótipo. O alelo (A) provoca clareamento da pelagem na cabeça, pescoço e tronco tomando o pigmento de tonalidade avermelhada.
(CAVALO CASTANHO)
B_A_bb Pelagem Castanha
(bbA_) Pelagem alazã sobre baia. Com esse genótipo o animal vai se apresentar com crina, cauda e membros vermelhos, pois o pigmento produzido será o vermelho (alelo b em homozigose), mas a presença do (A) no genótipo provoca clareamento nas regiões da cabeça, pescoço e tronco, tornando a pelagem dessas regiões de tonalidade amarelada.
Genes da Série D (Dilution)
A ação do alelo dominante (D), desta série é provocar diluição na tonalidade da pelagem, agindo na intensidade de produção e distribuição do pigmento produzido. Assim, animais que possuem esse alelo na forma dominante (D) terão menor produção de pigmento melânico. Seu efeito é somativo, ou seja, na forma dominante homozigota (DD) haverá menor produção de pigmento que na forma dominante heterozigota (Dd).
(CAVALO BAIO)
A_B_DD Pelagem Baia
(CAVALO BAIO AMARILHO)
A_bbDd
(CAVALO LOBUNO)
aaB_D
Genes da Série E_ (Extension)
(E e ED) O alelo (E) é um fator de extensão e determina que o pigmento produzido seja uniformemente distribuído em toda extensão do corpo. Sua ação é antagônica ao alelo (A), pois este determina clareamento em regiões especificas e aquele, que o animal seja uniformemente pigmentado. Portanto o (E) é hipostático sobre o (A), ou seja, na presença de (A) ele não se manifesta no fenótipo do animal. O eqüino poderá ser portador do (E) e conseqüentemente transmiti-lo a prole, mas não saberemos identificar a presença desse alelo no seu genótipo pela observação de sua pelagem
O alelo recessivo (e) restringe a distribuição do pigmento na cabeça. Nas demais regiões do corpo, alguns pigmentos pretos tornam-se vermelhos e os vermelhos passam a ter tonalidades amareladas.
O alelo (ED) é um mutante da série (E). Sua ação é produzir muito pigmento que será uniformemente distribuído por toda extensão do corpo. Tem efeito epistático sobre (A), ou seja, na sua presença o (A) não se manifesta. Assim o acasalamento de animais de pelagem preta comum, oriundos do genótipo (aaB_E_) poderá ocorrer nascimentos de potros de pelagem preta ou alazã. No entanto, quando os reprodutores pretos forem portadores do alelo (ED) (Preta Azeviche), pode-se esperar desse acasalamento a ocorrência também da pelagem castanha. O preto (B ED) poderá carrear o alelo (A) sem que este se manifeste no fenótipo. Os portadores do (E) possuem intensa pigmentação na pelagem e seu efeito traz como conseqüência variedades:
(CAVALO ALAZÃO TOSTADO)
(BbaaE) Alazã Tostada ou (BbA_E) Alazã Tostada
Genes da Série G (Gray)
O alelo dominante da série (G) é responsável pela pelagem tordilha. Quando acontece na forma homozigota (GG) ou heterozigota (Gg) em qualquer dos genótipos, o animal nascerá com a pelagem determinada por esse genótipo e terá aparecimento gradativo de pêlos brancos até se tornarem completamente brancos.
(FOTO DE UM CAVALO TORDILHO)
A ação do (G) é impedir que o pigmento produzido pelo melanócito (célula produtora de melanina) seja distribuído para o pêlo.esse pigmento se acumulará dentro da célula e migrará para as extremidades do corpo. Em conseqüência desse acumulo gradativo de pigmento nas células das extremidades, alguns autores sugerem que o gene da pelagem tordilha (G) predisponha a uma patologia denominada “MELANOSE”. Essa suspeita, entretanto, ainda não teve comprovação cientifica.
Outra particularidade desse alelo é seu efeito somativo, ou seja, sua forma homozigota (GG), o clareamento da pelagem será mais rápido que na forma heterozigota (Gg). É importante ressaltar também que o (G) é um gene epistático sobre todos os outros, ou seja, somente vai se manifestar no fenótipo quando estiver presente no genótipo, levando a um clareamento gradativo da pelagem e nunca será mascarado por um outro gene. Então, um animal para ser tordilho terá, obrigatoriamente, um de seus pais também tordilho.
Na seleção para a pelagem tordilha é fundamental considerar os seguintes aspectos:
O animal com o genótipo (GG) clareará mais rapidamente que o de genótipo (Gg).
Do acasalamento de dois reprodutores tordilhos com clareamento rápido, tem-se 100% da progênie também da pelagem tordilha.
GG x GG = s 100% Tordilhos
Do acasalamento de dois reprodutores tordilhos de clareamento lento, 75% dos potros nascerão de pelagem tordilha.
Gg x Gg = 25% (GG%) Tordilhos, 50% (Gg) Tordilhos e (gg) 25% outra pelagem.
Do acasalamento de um animal tordilho de clareamento rápido com outro de qualquer outra pelagem, 100% dos produtos serão de pelagem tordilho de clareamento lento.
(GG x gg) 100% (Gg) Tordilho
Do acasalamento de um animal tordilho de clareamento lento com outro de qualquer outra pelagem, 50% dos potros serão também de pelagem tordilha.
Gg x gg = 50% Tordilho e 50% de outra pelagem
Por seu efeito epistático, sempre que o alelo (G) estiver presente no genótipo, o animal será de pelagem tordilha e, portanto, um eqüino de pelagem tordilha terá, obrigatoriamente, um de seus pais também de pelagem tordilha.
Genes da Série M (Markings)
Aralelos (M) e (m) são os genes responsáveis pelo aparecimento das particularidades das pelagens (calçamentos, estrela, cordão, etc) tem sido amplamente estudados e os autores divergem quanto à letra a ser utilizada para a sua designação.
O gene para particularidades de pelagem (calçamento e particularidades de cabeça) é recessivo (mm).
Na seleção para animais sem particularidades, seria necessário eliminar todos os animais que apresentassem particularidades.
(mm) x (mm) = 100% mm
Na seleção para animais sem particularidades, seria necessária a eliminação de todos os reprodutores, machos e fêmeas, que tivessem filhos com particularidades.
(Mm) x (Mm) = 25% MM (Sem particularidades), 50% Mn (sem particularidades) e 25% mm (com particularidades)
Sempre que o animal tiver particularidades nos membros terá também algum sinal na cabeça, pois existe associação entre calçamento e algumas particularidades de cabeça.
Sempre que o animal tiver particularidades nos membros terá também algum sinal. Parece haver sinais de cabeça com herança independente da dos membros.
Tamanho e forma das particularidades de membros e cabeça são ocasionados por genes modificadores independentes.
Genes da Série R (Roan)
(R) e (r) o alelo dominante desta série (R) é responsável pela pelagem rosilha. Este gene, atuando sobre a cor base (qualquer outra pelagem), determina que o animal apresente interpolação de pêlos brancos e pêlos pigmentados disseminados pelo corpo, sem caráter invasivo nem evolutivo. A proporção de pêlos brancos é maior no pescoço e tronco que na cabeça e extremidades dos membros, os quais se destacam por uma tonalidade mais escura.
(FOTOS DE UM ANIMAL ROSILHO)
O portador do alelo (R) diferencia-se daqueles que tem o (G), pois sua ação faz com que o potro, já ao nascimento, apresente interpolação de pêlos brancos no pescoço e tronco. Na pelagem tordilha, o branqueamento é progressivo e a interpolação de pêlos brancos ocorre em toda a extensão do corpo, inclusive na cabeça. Podem haver casos de potros que nascem Rosilhos e apresentam um branqueamento gradativo. Essa situação acontece quando, alem do (R), ocorre também o (G) epistático no genótipo do animal.
A expressão desse gene ainda não está totalmente esclarecida, existindo, por exemplo, informações contraditórias sobre seu efeito letal embrionário, quando em homozigose dominante (Caldeiras & Portas, 1999) e sobre sua condição de epistasia, pois (Bowling, 1997) citou que o animal Rosilho não terá necessariamente de ter um dos pais também de pelagem Rosilha.
Genes da Série W (White) - (W) e (w)
O (W) dominante é responsável pela pelagem branca. Tem características de epistasia, ou seja, mascara o efeito de todos os outros genes que já foram mencionados. Seu alelo recessivo (w) permite a manifestação do restante do genótipo. Os cavalos brancos ocasionados pelo alelo (W) apresentam pêlos brancos, olhos azulados, castanhos ou amarelados e apenas algumas áreas do corpo pigmentadas. Esses indivíduos são sempre heterozigotos (Ww). Os fetos portadores do genótipo (WW) são reabsorvidos ou abortados. Essa combinação genética leva a deficiência de assimilação do cobre e o feto morre de anemia, em conseqüência da importante função desse mineral na formação da hemoglobina.
Ww x Ww = 25% Morte Embrionária, 50% Brancos e 25% Outra Pelagem
Existem também outra séries de genes como o (LP – Leopard) encontrado em cavalos Apalloosa, genes da série (O – Overo) responsável pelo aparecimento de malhas brancas na pelagem, genes da série (P – Paint) também conhecido como Tobiano onde os animais apresentam malhas brancas despigmentadas.
Desta forma, é de grande importância que os criadores e técnicos tenham um certo conhecimento sobre a genética das pelagens, podendo assim, direcionar sua criação visando na medida do possível a pelagem favorita.
Bibliografia:
JONES, William E, Genética e Criação de Cavalos: SP. Roca, 1987
REZENDE, Adalgiza Souza Carneiro, Pelagem dos Eqüinos, Belo Horizonte FEP-MVZ Editora, 2001
RUBIM, Cristiano e Humberto.

fonte:
http://clarkveterinario.blogspot.com


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