quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Corrida do Genoma por US$ 1.000


Aparelhos de empresa usam tecnologia igual à de computadores pessoais. Prova de viabilidade foi ler DNA completo de guru da computação; meta será atingida em 2013, afirma cientista. Uma empresa americana acaba de detalhar, nas páginas de uma das maiores revistas científicas do mundo, sua aposta tecnológica para reduzir a apenas US$ 1.000 o preço de ler os três bilhões de "letras" do genoma humano.
"O genoma de US$ 1.000 não apenas é inevitável como é só o começo", disse à Folha o criador da nova tecnologia, Jonathan Rothberg, da Ion Torrent, subsidiária da Life Technologies que fica no Estado de Connecticut (Costa Leste dos EUA). "No ritmo de desenvolvimento atual da Ion, vamos atingir o genoma de US$ 1.000 em 2013 e continuaremos a fazer o custo cair nos anos seguintes", afirma.
Para mostrar que não estão brincando, os pesquisadores da empresa escolheram como "cobaia" ninguém menos que Gordon Moore, 82, fundador da fabricante de chips Intel. Ele é autor do postulado segundo o qual a capacidade de processamento dos computadores dobra a cada dois anos, em média. A decisão de ler o genoma completo de Moore é simbólica porque, para a equipe da Ion Torrent, a chamada lei de Moore também vai começar a valer para os leitores de DNA, cada vez mais potentes. Além disso, a tecnologia usada nos novos aparelhos é quase idêntica à de qualquer computador ou smartphone de hoje. Não depende da decifração das "letras" químicas do DNA usando luz, que torna o processo mais trabalhoso e caro com os aparelhos mais comuns hoje.
"O dr. Moore concordou em nos ajudar porque quer que as pessoas se sintam confortáveis com a tecnologia", diz Rothberg. Versões menos potentes da máquina da Ion Torrent já estão à venda. Especialistas veem técnica com empolgação e cautela - "Eu quero um desses para mim, a qualquer preço", brinca Sergio Verjovski-Almeida, médico e bioquímico do Instituto de Química da USP, ao comentar os novos sequenciadores de DNA. Para Verjovski-Almeida, a leitura do DNA sem a necessidade de usar luz e obter imagens para distinguir uma "letra" química da outra "aumenta muito a possibilidade" de que a empresa americana alcance a meta do genoma "a preços populares".
No novo procedimento, a leitura é apenas química e elétrica. A máquina consegue distinguir uma letra química da outra porque bateladas de cada uma delas são colocadas separadamente no aparelho, explica Sandro José de Souza, do Instituto Ludwig de Pesquisa do Câncer.
Assim, elas se ligam às suas parceiras específicas presentes no DNA original, produzindo um sinal químico (mudança da acidez no meio) que é convertido em sinal elétrico e em dado eletrônico. Apesar de seu interesse pela nova técnica, Verjovski-Almeida aponta que a necessidade de preparar as amostras para a passagem pelo sequenciador ainda pode tornar o processo relativamente lento. Se essa preparação for muito intensiva, as vantagens competitivas da tecnologia da Ion diminuem, afirma.
Cedo demais - Sandro José de Souza, biólogo do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, afirma que as versões mais simples dos sequenciadores da Ion andam tendo boa aceitação por parte das instituições de pesquisa, mas ainda apanham diante de tarefas mais complexas, como um genoma humano inteiro.
"A promessa deles é ir aumentando a capacidade dos chips, o que de fato pode fazer a diferença, mas outras máquinas hoje os superam", afirma o pesquisador. Souza diz que é cedo para dizer se a nova tecnologia vai triunfar na corrida pelo genoma de US$ 1.000. "As coisas estão mudando de maneira muito rápida".
Fonte : Folha de São Paulo.
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