sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Pesquisadores da USP utilizam mosquito transgênico para suprimir população de Aedes aegypti no bairro de Itaberaba em Juazeiro (BA)


Os benefícios proporcionados pela biotecnologia, cada vez mais evidentes nas lavouras do mundo inteiro, estão próximos de alcançar também um dos maiores desafios das políticas públicas de saúde: o controle de insetos. Pesquisa que está em fase final de desenvolvimento na Bahia utiliza mosquitos geneticamente modificados no combate ao Aedes aegypti, vetor responsável pela transmissão da dengue - doença que afeta pessoas em mais de 100 países e que, somente no Brasil, entre janeiro e agosto de 2011, registrou 608 mil casos.
“A alta capacidade reprodutiva dos mosquitos, somada ao custo de manutenção de programas públicos e às populações resistentes aos inseticidas, tornam falho o controle de vetores”, explica a professora e pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB/USP) Margareth Capurro, responsável pelo estudo de campo no bairro de Itaberaba, em Juazeiro, Bahia. O projeto utiliza a biotecnologia a favor da saúde pública e do controle da dengue, e é uma parceria do ICB/USP com as empresas Moscamed e Oxitec. “Outros países estão testando essas linhagens, mas o Brasil é o primeiro da América Latina nesse tipo de pesquisa para a dengue”, conta a pesquisadora.
Segundo Margareth, o principal desafio do projeto “é avaliar se linhagens transgênicas podem suprimir populações de mosquitos”. Neste caso, a linhagem usada de mosquito transgênico é a OX513A do Aedes aegypti. “Nossa intenção é controlar o mosquito e, como consequência, barrar a transmissão do vírus”, explica Danilo Carvalho, gerente do projeto em Juazeiro. “Erradicar a espécie é uma tarefa complicada e não acreditamos que isso seja possível, já que o mosquito é extremamente adaptado e adaptável ao ambiente onde o homem está inserido. Porém, reduzir significativamente o número de mosquitos é possível e é nisso que acreditamos”, avalia Carvalho.
Técnicas inovadoras
De acordo com os especialistas da USP, o controle genético dos insetos funciona da seguinte maneira: os machos carregam um gene letal para a prole. As proles de todas as fêmeas que copularem com os machos transgênicos não sobrevivem. Trata-se de um sistema transgênico, espécie-específico que induz letalidade nos organismos portadores do transgene, que passa então a ser uma característica da espécie. A técnica é conhecida como RIDL (Liberação de Insetos Carregando um Sistema Letal de Genética Dominante) e baseia-se na criação massiva e liberação na natureza de um grande número de mosquitos machos geneticamente modificados a fim de copularem com fêmeas silvestres, gerando larvas que morrerão nos primeiros dias de desenvolvimento - em geral em até cinco dias, - antes de atingirem condições de transmitir a dengue. Carvalho explica que o motivo da escolha da técnica de RIDL está alinhado com o objetivo do projeto, que é apenas suprimir geneticamente a espécie na região, e não inserir um novo gene na população de mosquitos. “Para a larva continuar viva, é necessária a ingestão de um antibiótico (antídoto), caso contrário, ela morre”, explica. “E quando morre no ambiente natural, leva com ela o gene modificado”, completa o pesquisador.
A principal diferença entre este modelo de controle e os inseticidas comumente usados é a especificidade. “Este pode ser considerado um “inseticida específico” para os Aedes, pois não afeta nenhum outro inseto. Os inseticidas químicos afetam tanto o mosquito como os insetos benéficos, como, por exemplo, as abelhas”, explica Margareth.
Para mensurar os resultados, os pesquisadores utilizam dois métodos: o primeiro é o próprio monitoramento, pois quando o macho transgênico copular com a fêmea selvagem, todos os filhos apresentarão o gene letal e será possível identificar a marcação genética promovida por uma proteína fluorescente (DsRed). “É desse modo que podemos afirmar que os mosquitos copularam no campo e inferir que, quanto mais larvas transgênicas forem encontradas, mais os machos transgênicos estão funcionando”, diz Danilo. “A outra metodologia é fazer uma recaptura dos insetos. Nesse caso, fazemos uma segunda marcação dos mosquitos a serem liberados com um pó fluorescente e, por meio de armadilhas ou aspirações, podemos dizer a proporção de machos (selvagens e transgênicos) e fêmeas, pois quando a proporção de selvagens diminuir, significa que estamos em quadro de supressão”, finaliza.

A Oxitec fez o mesmo estudo nas Ilhas Cayman entre 2009 e 2010 e, por isso, é parceira do projeto. A experiência caribenha, recentemente publicada na revista Nature Biotechnology, liberou três milhões de mosquitos transgênicos numa pequena área que foi capaz de reduzir a população da espécie em 80% ao longo de seis meses.
Resultados
Até o momento, os pesquisadores encontraram 40% do total de larvas transgênicas capturadas nas ovitrampas (armadilhas com larvicida que atraem o mosquito), sendo que, para iniciar o quadro de supressão, é necessário atingir 50% das larvas. “Por essa razão estamos trabalhando para aumentar nossa produção e atingir o estágio de supressão em breve”, resume Danilo. 
A equipe vem realizando uma comunicação intensa com a população de Juazeiro, com visitas às casas dos moradores, palestras nas escolas e comunidades, entrevistas em rádio e TV, folhetos explicativos e manutenção da informação diária pelo twitter. “Os habitantes foram bastante receptivos, entenderam a proposta do projeto e reagiram positivamente”, conta Margareth, que junto ao seu time de especialistas, já está preparando a extensão do projeto por meio do monitoramento de outras localidades aprovadas pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) para receber os mosquitos transgênicos.
Fonte:
www.monsanto.com.br


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