sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Consangüinidade e a Formação de Raças

                       
Escrito por Cezar Roberto Oliveira Kruger.
ENDOGAMIA E EXOGAMIA-Entende-se por endogamia ou consangüinidade os acasalamentos com animais aparentados, e exogamia os acasalamentos de animais de famílias ou linhagens dias tintas sem relação de parentesco. Considera-se que existe consangüinidade quando os parentes acasalados estão separados por no máximo 10 gerações.A partir da quinta geração a consangüinidade é praticamente inexistente, a não ser quando extremamente incestuosa (pai e filha), nas duas linhas o que é muito raro. A prática da endogamia tem como objetivo principal uniformizar o rebanho.
        De fato, acasalando animais de genótipos semelhantes, isto é, possuindo grande número de fatores comuns, esses fatores tendem a se tornar homozigotos, e a herança cada vez mais homogênea.
Essa técnica foi usada para fixar caracteres na formação da maioria das raças melhoradas dos animais domésticos. Na reprodução livre quando o homem não interferia na seleção natural da raça crioula a consangüinidade foi muito estreita, o que contribuiu sem dúvida par fixar caracteres de rusticidade, de adaptação ao meio ambiente, de resistência etc. Quando você usa a consangüinidade há uma homogeneização dos genótipos, vindo a tona os fatores recessivos, antes obscurecidos (latentes) em função dos acasalamentos heterogêneos ou fortuitos.
    Podemos afirmar sem sombra de dúvidas que a endogamia é a única maneira de aproximarmos o fenótipo do genótipo, isto é, de “mostrar o que realmente o animal é“, pois além de mostrar e fixar as qualidades estaremos mostrando e fixando os defeitos.
       Outras conseqüências diretas da endogamia é a “perda do vigor”dos produtos, a diminuição da fertilidade,e o aparecimento de defeitos recessivos o que popularmente se chama de “mal da consangüinidade “ e tecnicamente se chama depressão genética, isso na verdade se constitui em grande vantagem para o zootecnista experiente que lhe permite descobrir os defeito da família que se acham ocultos, e expurgá-los, tornando possível  criar famílias e linhagens isentas que dificilmente degenerarão.
   Linhagens consistentes são provenientes do uso consciente da consangüinidade, e se estabelecem no decorrer do tempo formando verdadeiras sub raças como 5 Salsos, La Invernada, Ballester, Cardal, etc. Outro objetivo da endogamia é a fixação de caracteres de um ancestral de grande expressão ou desempenho, para o resto da manada, usando-se  sempre acasalamentos consangüíneos provenientes do animal eleito .
     Quando o criador consegue desenvolver uma família  consangüínea  isenta de defeitos  e depressão genética, dizemos que “descobriu a América “, e a partir daí, pode partir para cruzamentos entre linhagens para obter o produto final, nunca abandonando aquilo que construiu.
       Está provado que a heterose ( cruzamento de linhagens) se manifesta com maior amplitude nos produtos provenientes de acasalamentos entre linhagens consangüíneas ( pelo menos uma delas).
    Outro aspecto importante a considerar é o da herdabilidade de caracteres  quando se usa a endogamia.
O coeficiente de herdabilidade, isto é, o maior ou menor grau de herdabilidade de um atributo genético tem uma relação estreita com o grau de consangüinidade = Quanto mais aumente o grau de homozigose ( consangüinidade ) maior é o grau de herdabilidade ( para o bom e para o ruim) – Quanto mais se aumenta a heterose ( exogamia) menor o índice de herdabilidade dos caracteres genéticos.
            Podemos colcluir que a consangüinidade não é boa nem má por si só. É na realidade uma ferramenta que pode ser usada desde que o criador esteja consciente dos riscos que a envolvem.

      A Exogamia ou cruzamento de animais sem relação de parentesco é a prática mais usada  pela maioria dos criadores com o objetivo de “somar características” e aproveitar o fenômeno da heterose ( vigor do híbrido ) em seus produtos. Os acasalamentos exogamicos tem vários aspectos a serem considerados mas destaco os mais importantes :
            1 – Heterose – Embora o fenômeno da heterose seja um aliado importante a que temos que recorrer freqüentemente para produzir animais de “pista “, a prática costumeira faz com que percamos a cada geração os efeitos do fenômeno, e passemos a ter um resultado inverso que é o aparelhamento dos recessivos, já que não temos idéia absolutamente nenhuma da existência deles neste tipo de prática. Outro fator negativo é que em função da homogeneidade genética  os reprodutores e matrizes na maioria absoluta das vezes iniciam uma regressão no fenótipo, já que seu código genético se afasta cada vez mais de seu fenótipo.
            2 – Herdabilidade  - Quando acasalamos dois animais “projetamos “através de suas qualidades um produto que herde estes atributos do pai e da mãe . Acontece que com altos graus de heterose numa manada, o grau de herdabilidade atinge os níveis mais baixos, devido a falta de aparelhamento dos gens nos alelos. O grau de heterose é inversamente proporcional ao grau de herdabilidade. Sendo assim nosso “projeto”de produto a nascer, tende a fracassar, não revelando as qualidades dos pais e muitas vezes regredindo assustadoramente.
            3 – Falta de controle genético – Após algumas gerações a prática contínua da heterose nos leva a uma falta total de parâmetros genéticos para uma previsão de produção,instalando na manada uma diversidade fenótipica, sem contudo proporcionar uma diversidade genética aproveitável.
O uso da exogamia é extremamente benéfico e dá excelentes resultados como uma estratégia temporária para tentar produzir “campeões “, mas nunca será uma prática consistente para produzir reprodutores.
Podemos dizer, que tanto a consangüinidade como a exogamia são aliados importantes, desde que usados com critério de tempo e espaço,num planejamento sério a longo prazo onde se define as bases e objetivos de cada cabanha.
Uma das opções para o uso de heterose , é ter uma fonte de matrizes homozigotas ( ao invés de produzi-las) , e praticar a exogamia com reprodutores próprios, ganhando-se tempo, o problema disso é que nunca teremos uma fonte própria de matrizes homozigotas, ficando sempre na dependência desse fornecimento.
  Uma das maneiras de se aproveitar da heterose com uma diversidade maior é usar três linhagens distintas, o que requer um profundo conhecimento das características genéticas que possam convergir para uma melhoria, buscando se beneficiar do fenômeno do vigor do híbrido a cada acasalamento.É o que se chama de Tri-cross em seleção de bovinos. Uma constatação de grande utilidade com relação ao fenômeno da heterose, é a de que não são todas as linhagens ou até raças diferentes que proporcionam o “vigor do híbrido”
Há linhagens diferentes que acasaladas não se constata o fenômeno do vigor do híbrido, ao contrário de outras que apresentam resultados surpreendentes, ao que os ingleses chamam de “good nick “( boa liga).
 Na verdade não há explicação científica para esse fato, restando a teoria de que a combinação genética de algumas linhagens realmente não funcionam como se espera, ao passo que outras,até com um índice de heterose menor, ou com “refrescos de as sangue”esporádicos, continuam proporcionando grandes resultados .
     É evidente que a exogamia por si só, a exemplo da consangüinidade, não produz milagres pois o acasalamento de animais medíocres não cria nada acima média da manada, apesar de toda a técnica a ser empregada.
    Em Genética existe um princípio imutável que não podemos esquecer = Não se cria novos gens  a não ser por mutação ( o que pode ocorrer numa proporção de 1:5.000.000 e sempre para carcteres de influência de somente um par de cromossomos),  isso quer dizer que se não tivermos carga genética em nossos animais para os caracteres que desejamos, eles não aparecerão por acaso.
         O que podemos realmente fazer é aflorar os caracteres desejados, e mascarar os indesejáveis, mas para tanto eles precisam fazer parte do genótipo existente nas éguas e no garanhão. Descobrir se eles existem é o primeiro passo.  
Fonte:    
www.cavalocrioulook.blogspot.com
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