Para desenvolver as pesquisas, os cientistas puderam contar com o banco de germoplasma de pimentas e pimentões da Embrapa Hortaliças, que hoje possui mais de dois mil tipos diferentes na coleção. Segundo Márcio Elias, ter esse tesouro genético à disposição dos pesquisadores foi fundamental para a agilidade e eficiência da pesquisa desenvolvida.
A equipe de cientistas começou estudando a diversidade genética das pimentas, algumas nativas do Brasil, outras oriundas das mais diversas partes do mundo. “Na natureza - explica Márcio Elias - em geral as pimentas ardem. Iniciamos a pesquisa com o pimentão, que é uma pimenta que não arde, identificada e domesticada pelo homem séculos atrás. Queríamos descobrir porque o pimentão não arde”, explica o cientista. Depois de análise de DNA, extraído de pedaços de folhas de mais de 500 tipos diferentes de pimentas e pimentões, Bruna Ohse, estudante que trabalha com Márcio Elias, identificou deleções (partes que foram apagadas ao longo da sua história evolutiva) e mutações no DNA que impedem o funcionamento da enzima que codifica o gene da capsaicina, responsável pelo ardor.
“Com a identificação dessas deleções e mutações”, como explica Márcio Elias, “desenvolvemos uma tecnologia que torna segura, rápida, eficiente e barata a identificação das pimentas que não ardem. Podemos agora, entre milhares de plantas, identificar precocemente aquelas que ardem ou não no programa de melhoramento genético”. Essa tecnologia, amplamente testada pelos cientistas da Embrapa, terá um impacto significativo no desenvolvimento de novas variedades de pimentas.
Além de desenvolver variedades sem ardor com mais rapidez e menor custo, a tecnologia permitirá aos cientistas, antes que a planta floresça e produza frutos, concentrarem os seus esforços na seleção de plantas superiores para outras características importantes, como resistência a patógenos e pragas. “Podemos otimizar o processo de seleção no melhoramento genético de pimentas, identificando várias características positivas em uma planta antes que ela floresça, agregando valor às novas variedades”, sintetiza o cientista, lembrando que “Não tarda o dia em que pimenta (doce) nos olhos dos outros realmente será colírio”.
*Figura – O exame de DNA permite identificar se o fruto arde ou não, independentemente do aspecto da pimenta. Se a pimenta (Capsicum annuum) tem o segmento de DNA indicado pela seta vermelha, os seus frutos serão ardidos. Se não possui este segmento, mas o segmento indicado pela seta verde, os frutos serão doces(as cores da pimenta não tem influencia sobre o ardor).
Fonte:
http://www.cenargen.embrapa.br