Os benefícios proporcionados pela biotecnologia, cada vez mais evidentes nas lavouras do mundo inteiro, estão próximos de alcançar também um dos maiores desafios das políticas públicas de saúde: o controle de insetos. Pesquisa que está em fase final de desenvolvimento na Bahia utiliza mosquitos geneticamente modificados no combate ao Aedes aegypti, vetor responsável pela transmissão da dengue - doença que afeta pessoas em mais de 100 países e que, somente no Brasil, entre janeiro e agosto de 2011, registrou 608 mil casos.
“A alta capacidade reprodutiva dos mosquitos, somada ao custo de manutenção de programas públicos e às populações resistentes aos inseticidas, tornam falho o controle de vetores”, explica a professora e pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB/USP) Margareth Capurro, responsável pelo estudo de campo no bairro de Itaberaba, em Juazeiro, Bahia. O projeto utiliza a biotecnologia a favor da saúde pública e do controle da dengue, e é uma parceria do ICB/USP com as empresas Moscamed e Oxitec. “Outros países estão testando essas linhagens, mas o Brasil é o primeiro da América Latina nesse tipo de pesquisa para a dengue”, conta a pesquisadora.
Segundo Margareth, o principal desafio do projeto “é avaliar se linhagens transgênicas podem suprimir populações de mosquitos”. Neste caso, a linhagem usada de mosquito transgênico é a OX513A do Aedes aegypti. “Nossa intenção é controlar o mosquito e, como consequência, barrar a transmissão do vírus”, explica Danilo Carvalho, gerente do projeto em Juazeiro. “Erradicar a espécie é uma tarefa complicada e não acreditamos que isso seja possível, já que o mosquito é extremamente adaptado e adaptável ao ambiente onde o homem está inserido. Porém, reduzir significativamente o número de mosquitos é possível e é nisso que acreditamos”, avalia Carvalho.
Técnicas inovadoras
De acordo com os especialistas da USP, o controle genético dos insetos funciona da seguinte maneira: os machos carregam um gene letal para a prole. As proles de todas as fêmeas que copularem com os machos transgênicos não sobrevivem. Trata-se de um sistema transgênico, espécie-específico que induz letalidade nos organismos portadores do transgene, que passa então a ser uma característica da espécie. A técnica é conhecida como RIDL (Liberação de Insetos Carregando um Sistema Letal de Genética Dominante) e baseia-se na criação massiva e liberação na natureza de um grande número de mosquitos machos geneticamente modificados a fim de copularem com fêmeas silvestres, gerando larvas que morrerão nos primeiros dias de desenvolvimento - em geral em até cinco dias, - antes de atingirem condições de transmitir a dengue. Carvalho explica que o motivo da escolha da técnica de RIDL está alinhado com o objetivo do projeto, que é apenas suprimir geneticamente a espécie na região, e não inserir um novo gene na população de mosquitos. “Para a larva continuar viva, é necessária a ingestão de um antibiótico (antídoto), caso contrário, ela morre”, explica. “E quando morre no ambiente natural, leva com ela o gene modificado”, completa o pesquisador.
A principal diferença entre este modelo de controle e os inseticidas comumente usados é a especificidade. “Este pode ser considerado um “inseticida específico” para os Aedes, pois não afeta nenhum outro inseto. Os inseticidas químicos afetam tanto o mosquito como os insetos benéficos, como, por exemplo, as abelhas”, explica Margareth.
Para mensurar os resultados, os pesquisadores utilizam dois métodos: o primeiro é o próprio monitoramento, pois quando o macho transgênico copular com a fêmea selvagem, todos os filhos apresentarão o gene letal e será possível identificar a marcação genética promovida por uma proteína fluorescente (DsRed). “É desse modo que podemos afirmar que os mosquitos copularam no campo e inferir que, quanto mais larvas transgênicas forem encontradas, mais os machos transgênicos estão funcionando”, diz Danilo. “A outra metodologia é fazer uma recaptura dos insetos. Nesse caso, fazemos uma segunda marcação dos mosquitos a serem liberados com um pó fluorescente e, por meio de armadilhas ou aspirações, podemos dizer a proporção de machos (selvagens e transgênicos) e fêmeas, pois quando a proporção de selvagens diminuir, significa que estamos em quadro de supressão”, finaliza.
A Oxitec fez o mesmo estudo nas Ilhas Cayman entre 2009 e 2010 e, por isso, é parceira do projeto. A experiência caribenha, recentemente publicada na revista Nature Biotechnology, liberou três milhões de mosquitos transgênicos numa pequena área que foi capaz de reduzir a população da espécie em 80% ao longo de seis meses.
Resultados
Até o momento, os pesquisadores encontraram 40% do total de larvas transgênicas capturadas nas ovitrampas (armadilhas com larvicida que atraem o mosquito), sendo que, para iniciar o quadro de supressão, é necessário atingir 50% das larvas. “Por essa razão estamos trabalhando para aumentar nossa produção e atingir o estágio de supressão em breve”, resume Danilo.
A equipe vem realizando uma comunicação intensa com a população de Juazeiro, com visitas às casas dos moradores, palestras nas escolas e comunidades, entrevistas em rádio e TV, folhetos explicativos e manutenção da informação diária pelo twitter. “Os habitantes foram bastante receptivos, entenderam a proposta do projeto e reagiram positivamente”, conta Margareth, que junto ao seu time de especialistas, já está preparando a extensão do projeto por meio do monitoramento de outras localidades aprovadas pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) para receber os mosquitos transgênicos.
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